Porque hoje há papéis, e letras e palavras. É tudo o que não
quero ouvir. Hoje páro frente à linha de comboio sem dar um passo atrás. Um
passo para a frente. Talvez outro? Abandonaste-me. Deixaste-me fria, sozinha
atrás daquele banco em que nos apaixonámos, atrás do beijo que me deste. Outro
passo, talvez seja agora. Escondida atrás dos jardins em que andámos de mãos
dadas, entre lençóis em que nos amámos. Quero dar um passo, porque me
estilhacei. Porque as lágrimas são levadas pelo vento e eu não as consigo
juntar. Vejo-me reflectida no metal dos carris, um corpo inerte, uns olhos que
não me vêem. Sozinha. Sozinha sempre. Agarrada às pegadas que deixámos juntos
na terra do jardim, à sombra que não se solta de mim. Outro passo em frente.