segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sujam-se as mãos. As pernas. Os pés. Todo o meu corpo coberto de cinzas do que me resta. Da forma que deixou sobre os lençóis. O sangue que ali fica.
Deixo-me escorregar porque é o fácil. Deixo-me ir sem lutar, a forma do corpo mantém-se presa ao consciente, à natureza do viver. Deixo-me ir, enquanto o sol ainda brilha. Enquanto todos olham de lado, enquanto eu olho para o nada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Encho-me de nadas. De não sentir, nos vultos sem cara que passam por mim.

Pensei que me conhecesse. Que me amasse. Tal como sou, sem nada. Com as mãos cheias de passado, de não querer ser. Talvez se me largar. Se me apertar. Se me deixar cair.

Nesta noite em que só me quero perder.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Entrelaço as mãos uma na outra. Na procura incansável das respostas, dos restos da corda que me segurou no passado. Fujo, voo, corro para o infinito, para longe de todos, para longe dos pensamentos que me fazem sangrar por dentro. Lágrimas que me inundam a alma por dentro.

"Desta vez não vou chorar".

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O cansaço pesa-me nas mãos. Nos pés que se arrastam em sangue, nas pegadas que a água vai apagando...os dedos caem. O corpo cai, inerte. Na areia que me enterra, a soterrar-me sobre o peso do que não alcanço. As mãos fogem. A voz foge para longe, nem ela quer ficar. Nem eu me quero ouvir.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Esqueço-me de mim mesma. Perco-me no meio das tuas palavras, o meu coração cai-me aos pés quando te oiço...Despedaça-se. Quebra-se, rasga-se como uma folha de papel...essa que vai ao vento. Essas letras que se despedem de mim, porque não consigo mais. Vejo-te, mas não oiço o que dizes. "Não sei, não sei se é tempo". O tempo nunca chega. Nunca nos chegou. E agora desfaço-me. Minto-te como se falasse verdade. Cuspo mentiras na tua cara, atiro a minha alma ao chão e digo que "estou bem, eu aguento". Sinto-me de novo no baloiço, prestes a cair do precipício. Prestes a sentir que não sou nada, não valho nada, não mereço nada. Nulidade. O não existir. O não viver. O não parar de escrever para não sentir mais. Como se as palavras fossem mais do que mentiras. E como eu te menti...

domingo, 28 de junho de 2015

Sozinha. Ondas molham-me os pés, deixam um rasto de espuma branca nos meus dedos...como queria ser como elas. Como essas ondas que apenas vão e vêm sem querer. Sem pensar. Sem morte nem vida. Apenas ir e vir. Esse embalo em que me deixo cair, que me leva apenas para me trazer...apenas para me trair na vida.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Gotas de sangue escorrem-me nas mãos. Nos dedos. Caem na terra molhada, misturam-se com o pó que me cobre o corpo, com a memórias que arranco de mim mesma.
Cubro-me de terra. Nesta mistura de vermelho e negro, estendo a mão à procura do nada. Estendo cada um dos meus dedos para prender a chama que me foge.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Os dedos deixam um rasto de sangue. Gotas que caem suavemente aos teus pés. Olha-las como se não fossem tuas. O sangue que cai. Pequenas lâminas que me cortam o caminho em frente.
Rodeada por negro. Por cordas que me apertam os pulsos, as mãos, os dedos que se desfazem como areia aos teus pés. Essas mãos que te gritam. Que te dizem que serei sempre outra.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Porque hoje há papéis, e letras e palavras. É tudo o que não quero ouvir. Hoje páro frente à linha de comboio sem dar um passo atrás. Um passo para a frente. Talvez outro? Abandonaste-me. Deixaste-me fria, sozinha atrás daquele banco em que nos apaixonámos, atrás do beijo que me deste. Outro passo, talvez seja agora. Escondida atrás dos jardins em que andámos de mãos dadas, entre lençóis em que nos amámos. Quero dar um passo, porque me estilhacei. Porque as lágrimas são levadas pelo vento e eu não as consigo juntar. Vejo-me reflectida no metal dos carris, um corpo inerte, uns olhos que não me vêem. Sozinha. Sozinha sempre. Agarrada às pegadas que deixámos juntos na terra do jardim, à sombra que não se solta de mim. Outro passo em frente.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Deixo o sangue escapar-me por entre os dedos,

as palavras gritam-me aos ouvidos.

Morrer, na sombra que me cobre,

na luz que desiste de me olhar.

As pegadas pregaram-se ao chão.